Cidade Era uma vez
Cidade
Era uma vez uma mulher que conhecia uma cidade que não era a sua, cidade que queria muito ver com outros olhos, com os olhos que para ela eram o caminho do mundo, a glória do saber, a luz que lhe mostrava estrelas remotas e planetas em perda de movimento. Essa vista sobre a cidade foi-lhe então negada com arrogância, puro desamor feito espada de aço temperado em palavras duras na indistinção. Muito tempo depois, persistente e cansada, ela voltou à cidade e de novo desejou a partilha, mesmo que muito breve, daquelas ruas fantásticas, e de novo lhe foi negada, desta vez sem crueldade, substituída pela mera desatenção. E a cidade, que era de pedra e brilhava ao sol, e tinha a força mágica do rio que lhe corria aos pés, mostrou à mulher um caminho de volta para si.
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Publicado em 15 de Junho de 2004