Da disponibilidade (ou da vida
Da disponibilidade
(ou da vida como um todo)
O amor é também dar espaço e tempo ao outro para fazer o seu percurso, sem cobrar o desnecessário, por mero capricho ou amor próprio desmedido; quando se ama, sabe-se viver os êxitos do outro e não reclamar abandono em vez de comungar o caminho percorrido. Essa generosidade, essa verdadeira partilha, dá sentido até a um tempo de eventual distância física, porque se tem que dedicar atenção a outros aspectos da vida que excluem o estar com o outro; nunca é por aí que se mata o amor ou se deixa que ele morra por negligência. O amor morre quando já não é, quando um olhar já não mostra em espelho exacto e rigoroso o olhar do outro, quando o fio de água deixou de correr, ou quando nunca foi mas à superfície parecia que sim. O amor autêntico, o que se afirma fora do território do egoísmo, o que não se limita a aspirar a uma "soledad compartida", o que brilha como uma vela inextinguível dentro de cada um de nós, mesmo esse, fatalmente, acabará por morrer um dia. No dia da nossa própria morte.
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Publicado em 2 de Julho de 2004