Cheirar os sais ( ou
Cheirar os sais
( ou a liberdade de olhar de fora)
Alguns dos que agora se excitam e enervam com a tenebrosa actualidade política, em particular na justiça (e note-se que alguns "comentadores" são políticos que têm tido posições de poder manifesto nos últimos anos), deverão cheirar o seu frasquinho de sais, respirar fundo, e repensar se nos dois anos do Governo Barroso (e certamente tembém no segundo Governo Guterres, tão mau que saiu a meio do mandato, perdidos o rumo e o interesse na acção governativa - uma das atitudes que devia ser alvo de julgamento ético, mas enfim...) a justiça não andava já aos baldões, se Celeste Cardona não foi uma escolha sem nenhum outro critério que não a confiança de Portas, se o processo Casa Pia não era já um desmando impensável num Estado de direito democrático, com fugas sistemáticas ao segredo de justiça, com prisões preventivas de duração mais do que excessiva, com incursões erráticas dos jornalistas no processo, etc., etc.
Pois, realmente as coisas não começaram a correr mal agora, mesmo que só agora se repare nelas, com nervos à flor da pele. A realidade presente tem o péssimo hábito de não nascer do nada: tende a nascer da realidade anterior.
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Publicado em 14 de Agosto de 2004