Controlo de qualidade, precisa-se Por
Controlo de qualidade, precisa-se
Por dever de ofício, conheço com razoável detalhe as regras deontológicas dos jornalistas; conheço também, e tenho convivido, com alguns jornalistas, cujo trabalho respeito e de quem gosto. Naturalmente, porque essa é a minha área de formação, conheço muitos magistrados e advogados, e as regras auto-regulatórias que os sujeitam.
Por via destas duas circunstâncias, não consigo perceber como é que o jornalista do CM obteve as conversas telefónicas agora tornadas públicas - nem do ponto de vista dele, nem, ainda menos, do ponto de vista de quem falou com ele, nas circunstâncias em que o fez, ocupando cargos que exigem a maior contenção, toda a seriedade e elevada capacidade de avaliação das circunstâncias. Como é que pode haver alguém que é director de uma polícia de investigação criminal (e magistrado de carreira), e viola todas as regras, a começar pela do mais elementar bom senso e decoro, permitindo-se conversar amenamente ao telefone com um jornalista, falando com assustadora "postura de café" acerca do então líder do Partido Socialista, no estilo que agora todos conhecemos? E como é que alguém pode ser porta-voz de uma figura institucional do maior relevo no mundo judicial, e na própria organização de um Estado de direito democrático (que a Constituição afirma e reivindica para Portugal), e ter diálogos daquele tipo, com aquele nível de desleixo, com um jornalista?
Pode ter sido o princípio de Peter a funcionar em todas estas carreiras (a começar pela do jornalista)? Ou é falta de controlo de qualidade, generalizado e cilindrante? Quem souber, por favor explique. Urgente.
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Publicado em 13 de Agosto de 2004