Noite (febre, ou da memória
Noite
(febre, ou da memória distante)
Na minha noite, ai, tão curta,
o vento está prestes a encontrar-se
com as folhas das árvores.
Na minha noite, tão breve,
e plena de uma angústia devastadora.
Ouve!
Ouves o sussurro das sombras?
Habituada ao desespero,
olho ao longe esta felicidade,
criei hábito no desespero.
(...)
Um segundo. Depois nada.
Atrás desta janela, a noite treme
e a terra deixa de girar.
Atrás desta janela, qualquer coisa desconhecida
está suspensa de mim e de ti.
Ah, tu, verde dos pés à cabeça,
coloca as tuas mãos,
essas memórias escaldantes,
nas minhas mãos amorosas.
E entrega os teus lábios,
como um quente arrepio de vida,
à carne dos meus lábios amorosos.
O vento levar-nos-á.
Forough Farrokhzad
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Publicado em 12 de Agosto de 2004