Quase em tempo real, pergunta-me Pedro Ferreira se me parece que a melhor solução, não apenas para o PS, mas para o país, seria João Soares como Primeiro Ministro, e Manuel Alegre na Presidência da República. A questão que me coloco não se põe exactamente nesses termos: o que me desagrada mesmo é ter uma figura sem espessura, vaidosa e frívola, como Primeiro Ministro (e lá está ele, embora custe a acreditar, representando, arvorado em homem de Estado, o ar sério forçado que não esconde a impreparação, a desadequação da pessoa para o cargo - e a "culpa", ou melhor, a responsabilidade deste tremendo erro de casting não é apenas de Barroso, é de todos os que o aceitaram como figura de primeira linha da direcção do PSD); nessa justa medida, prefiro João Soares, que pessoalmente me parece inteligente e corajoso, mas em quem nunca pensei como líder do PS. Para a Presidência, Alegre seria certamente uma possibilidade, mas é cedo, demasiado cedo, para fazer a escolha definitiva da "esquerda". De qualquer forma, volto a sublinhar que Guterres nem deveria ser aventado como hipótese, a não ser que agora, por perversidade pura, valham as credenciais negativas dos candidatos ( e aqueles que ficaram zangados com Barroso por ele ter deixado o Governo em prol da oportunidade única que se lhe apresentou, deviam ter em conta que um político que sempre investiu nas relações internacionais não poderia fazer poutra coisa - apenas podia e devia ter acautelado melhor a sucessão no seu partido e no Governo, eventualmente segurando Ferreira Leite para os dois anos que faltavam cumprir); Guterres saiu do Governo sem motivo, sem outra explicação que não seja a falta de persistência, a inconstância romântica de quem põe os olhos em alvo e foge do navio encalhado - imperdoável, em política e na vida.
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Perplexidades 2 Quase em tempo
Perplexidades 2
Publicado em 24 de Agosto de 2004