Quarto Minguante (ou da prudência insensata, belo cognome dado ao Modus pela Carla) Às vezes desejava perder-se naquela cidade quase sua, não saber o caminho para o monte Atos que inventara; pedia então às ruas que dessem outras voltas, às praças que se desencontrassem do rio, à luz que fosse menos bela, às árvores que se espalhassem em desordem por pequenos jardins imprevistos. Queria não saber seguir em frente, não poder recuar a não ser voando para longe. Às vezes queria mais ainda, e pedia ao tempo que lhe desse a imerecida benção de escolher em vida, que lhe fosse revelada a magia capaz de suspender os passos no último, decisivo segundo, antes de chegar àquela porta sobre a escuridão de onde nunca mais se sai; sonhava que daria meia volta no corredor largo da vida, fugiria da casa onde perdeu todos os passos, onde tantas lágrimas lhe escorreram, nunca sepultadas no rio subterrâneo do passado. Outras vezes, mais raras e febris, só pedia o condão de esquecer, de aprender a não lutar, a desesperar em silêncio indiferente, a não sonhar nunca. Louca, pedia o mais impossível dos milagres: não amar em vão. --------