Tadzio, Narciso e outras dores menores Não queria pensar, mas há ideias que não precisam de dono, invadem a cabeça que não as deseja, impõem-se, escuras como castelos desabitados. Aquele almoço com Tadzio em simetria tinha-a levado em excursão até ao Hades, um quarto de século depois (meu deus, malditas contas...). Idêntica cena, outro personagem, o mesmo argumento - e o desconsolo, o velho desconsolo, com Tadzio ou com Zerlina, tão parecidos nas causas, tão iguais nos efeitos. A repetição em espiral, a procura do mesmo desamor garantido, à prova de bala. A atracção pelo impossível (o improvável seria demasiado falível para tão grande exigência de fracasso), a repetição ad nauseam do ilógico repúdio pelo desgosto comprado ao peso de ouro dos anos gastos em vão, a retoma permanente do mesmo círculo viciado, vicioso, viciante. Narciso, então, foi um sucesso fulgurante nesta lógica demente. --------