A parte pelo todo
Em Terminal de Aeroporto, e através da virtuosa capacidade dramática de Tom Hanks, Steven Spielberg conta uma história de exílio centrada no conceito de ser estrangeiro e ilustrando essa condição através da manisfestação da sua dureza máxima: a incapacidade comunicacional decorrente do desconhecimento da língua falada pelo(s) outro(s). Usando um ficção política plausível, mostra a capacidade de sobrevivência "em cativeiro" de um homem que tem um propósito perfeitamente simples - ir a Nova Iorque obter um autógrafo de uma lenda do jazz - apanhado por uma súbita alteração das circunstâncias políticas no seu país, o que o priva temporariamente de liberdade de circulação. Toda a sua vida se resume a esperar no aeroporto JFK até que a situação se altere, e nessas semanas a personagem de Viktor Navorski reconstrói toda uma vida - dota-se do instrumento fundamental, a linguagem, aprendendo rudimentos de inglês que lhe permitem comunicar, faz amigos, trabalha, apaixona-se por uma mulher bonita e doce (C. Zeta Jones) que prefere outra relação à qual chama o seu destino, argumenta com o poder, afirma-se, negoceia; em suma, faz num universo comprimido e observado o que fazemos todos em espaços mais amplos, com a convicção (ilusão?) de não sermos espiados nos nossos movimentos. É certo que era difícil criar uma figura mais empática do que a representada por Tom Hanks, mas o êxito do filme não está apenas aí - está na decifração dos mecanismos do humano, na clara figuração do seu potencial de sobrevivência, na superação das dificuldades sem recurso ao mal. Reconforta sobretudo por isso.
--------