Da terrena perfeição
Manhã de chuva sem ter que sair. O céu aberto em cinzento e anil, até ao cabo, bem a sul. As nuvens de chumbo acasteladas sobre Lisboa, o rio adivinhado em verde musgo. Muitas chávenas bem fumegantes do delicado Ceylan broken orange, ainda uma recordação a correr de um passado tornado vapor em ano de simples exaustão. O consolo de Bach, O cravo bem temperado, saído das mãos mágicas de Ton Koopman, a encher o ar sem deixar espaço para nada que não seja a harmonia. E o sempre amado verbo, nas palavras tão antigas de John Downland:
Now o now I needs must part,
Parting though I absent mourn.
Absence can no joy impart,
Joy once fled cannot return.
Dear when I am from thee gone,
Gone are all my joys at once,
I love thee and thee alone,
In whose love I joyed once.
And although your sight I leave,
Sight wherin my joys do lie,
Till that death do sense bereave,
Never shall affection die.
--------
Da terrena perfeição Manhã de
Publicado em 4 de Setembro de 2004