"- Que costuma você fazer aqui, em noites destas?
(...)
- Penso na vida. No que foi, no que podia ter sido e no que há-de ser ainda. Que mais acha que poderia fazer?
- E faz algum sentido?
- O quê? A vida, a minha vida?
- Sim.
- Não me pergunte isso. Essas perguntas não se fazem aqui. De que serviria? Você está cá apenas de passagem, mais ano menos ano, volta para Portugal. A sua vida é lá, aqui é só uma passagem. Mas eu, não: eu vivo cá e vivo cá para sempre, foi o que o destino me reservou. Não escolhi nada nem estou em situação de escolher. Agarro o que se passa e quando consigo: são as coisas que vêm ter comigo e não eu que vou ter com elas. Percebe o que digo?"
Miguel Sousa Tavares, in Equador, ed. Oficina do Livro.
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