Há seres que sabem de outros caminhos, que falam de coisas que vêem e não explicam; seres que não se pretendem pequenos deuses acima de todos os outros, mas são anjos que tocam a terra com os dedos leves, e derramam estrelas dos olhos brilhantes quando, por mera sorte esvoaçante, se cruzam com quem os reconhece. Há seres assim, de cabelos soltos e corpos magros, gestos de ternura e palavras belas, certeiras, generosas umas, ferozes outras, e riso de fogo pronto a derreter o ridículo que se expõe na vaidade alheia. Há seres que tiram poesia do que sofrem, engolem as lágrimas sem que ninguém adivinhe, preocupam as mães em silêncio, sobressaltam as outras mulheres que tocam, nem que seja com a alegria breve. Quando passam perto, iluminam e deixam perceber outros mapas possíveis. Um desses seres mora aqui.
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Inexplicável Há seres que sabem
Inexplicável
Publicado em 14 de Setembro de 2004