Mais filmes com livros dentro 2 (e vice versa) "Always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours."
É assim que, ao som da música marcante de Philip Glass, termina "The hours", o filme de Stephen Daldry, feito a partir do livro de Michael Cunningham. Curiosamente, o filme pareceu-me mais forte do que o livro, talvez porque juntar três mulheres poderosas como Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore para darem vida às três biografias impressivas e entrelaçadas, partindo de Virginia Woolf e da sua personagem Mrs. Dalloway, só podia realizar a magia rara de exceder o que se imaginou ao ler. Virginia escreveu Mrs. Dalloway sentindo-se como uma borboleta presa na teia de aranha da loucura. Nos anos 50, uma mulher "com tudo para ser feliz" lê o livro e pensa em suicidar-se; em vez disso, deixa a vida e a família que tem e escolhe a solidão. Em 2001, uma redactora nova iorquina, Clarissa, que amou o filho dessa mulher, um escritor premiado a morrer com sida, e a quem ele sempre chamou Mrs. Dalloway, assiste ao suicídio dele. Percebe-se o valor da vida quando se contempla a sua fragilidade. Vê-la muito de perto pode ser insuportável. E, como tudo, paga-se. Muito caro, quase sempre.
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