Soneto do escuro Amor, tenho
Soneto do escuro
Amor, tenho saudades de outra vida
feita só de mil dias transparentes:
Não te esqueças de mim se vires perdida
esta voz nas palavras mais ausentes.
Porque é perto da morte que escrevemos,
cada verso contém uma ameaça:
e a ternura maior que nos dizemos
é feita de penumbra fria e baça.
Se a voz se dá no verso e na medida
é medo, meu amor, mais que vontade:
o verso nada pode contra a vida;
sabê-lo é a nossa liberdade.
É medo que nos verso esconjuro,
como riso vibrando no escuro!
Luís Filipe Castro Mendes
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Publicado em 24 de Setembro de 2004