Quando alguém, tido por inteligente e avisado, se expõe de modo descabido (por vaidade e excesso de confiança? por ter perdido a noção, antes tão nítida, deque as palavras e os gestos aprisionam?) para além dos limites recomendados pelo bom gosto, arriscando-se a uma exposição que o bom senso desejaria sempre evitar, é certamente o princípio do fim do respeito por si próprio, perdido na voragem desmedida contida no desejo último de usar os outros.Aí se percebe a cena final da célebre ópera de Mozart: a ida para o inferno de D. Giovanni não é um acto destinado a enfrentar com coragem um destino escolhido, por mais sórdido que seja; é a alienação de quem se fechou para sempre longe da verdade do amor.
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Bom gosto & bom senso
Bom gosto & bom senso
Publicado em 16 de Outubro de 2004