Moralia prática (portátil de tão mínima)
Fazer bem é (também) uma questão de intenção. Fazer bem porque se gosta de alguém é fácil; fazer bem apesar de não se gostar é um supremo luxo de magnanimidade, com o perigo de quase roçar a auto-complacência - é levar a nossa alma a jantar ao Plaza, em Nova Iorque, de braço dado consigo mesma. Fazer mal por querer é doentio e muitas vezes estúpido de tão gratuito. Fazer mal sem querer é comum e mais evitável do que se pensa.
Ser destinatário do bem é um conforto que pode trazer consternação. Ser destinatário do mal dependerá da origem dele e da importância que formos capazes de (não) lhe atribuir (falando de mal moral, sobretudo; o mal físico tem outros contornos e consequências potencialmente mais vastas, se irreversíveis). Conhecer alguém que nos anima (no sentido etimológico) é ser destinatário de um bem imediato. Receber o mal de quem não se espera é uma lição (in)devida, mas que deve ser levada dentro do espírito de Terêncio, envolvendo em silêncio o que não chega a valer o sopro da palavra, sem condescendência nem irritação. De resto, pouco mais se pode adivinhar e resta acreditar no equilíbrio final de deve e haver.
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