Sinopse agnóstica (2046, ainda)
A pessoa certa no momento errado não se sabe se aconteceu - podemos ter estado de olhos bem fechados e não a ter visto, justamente porque o momento não deixou; a pessoa errada no momento certo, sabe-se o que é e para o que (não) serve: encontrar alguém, estar disponível para amar, e o outro não nos ver, não assim, dessa maneira radical - pode até sentir a força telúrica da atracção, pode haver sexo, algum afecto, mas não haverá nunca intimidade, a alma sempre bem longe do ardor dos corpos, que se emprestam no prazer mas não se entregam em reciprocidade plena e sem limites. Há séculos de literatura sobre desapontamento do amor não correspondido, o brilho ácido da faca que desfazlentamente a alma e deixa intacta a esperança mais irracional no que não se pode ter, simplesmente "porque não tinha de ser".
Suspeita-se sempre que pode haver a pessoa certa no momento certo, mas só ouvir por contar, e parece possível, improvável embora. Pode ser que um dia nos caiba o testemunho directo. Ou não.
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