Crise (do grego krísis)
"Acto ou faculdade de distinguir; acto de escolher, escolha, eleição; acto de separar, dissentimento, contestação; contestação em justiça, processo; acto de decidir; decisão, julgamento (de uma questão, de uma dúvida); julgamento de luta, de concurso; concurso, decisão judiciária, julgamento, condenação; o que resolve qualquer coisa, solução, decisão, resultado (de guerra); fase decisiva de doença, crise; explicação, interpretação de sonho".
José Pedro Machado, in Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, ed. Livros Horizonte.
Um momento de crise interior, mesmo (sobretudo?) se desencadeado por factores exógenos, é uma experiência tão dolorosa quanto útil, variando com a gravidade daquilo que a crise afecta ou põe em causa. Tudo ganha uma nova perspectiva, uma dimensão diferente - frustrações ou mesmo inquietações que pareciam profundas e abissais tornam-se quase fait divers, o certo passa a interrogado, a protecção aparente desmorona-se, os laços verdadeiros e perenes reforçam-se em cordas de aço. A crise leva o acessório como a maré vazante arrasta os restos de conchas, as algas secas, os irrelevantes peixes mortos deixados depois de puxadas as redes. Só o essencial resiste, com a constância do rochedo, e só a ele se pode trepar na ânsia de escapar à fúria das ondas, mesmo se as arestas cortam a liberdade das mãos, mesmo se os salpicos ainda encharcam o caminho. A separação é nítida e as escolhas fazem-se por si mesmas. Excelente ocasião para aprender, a crise.
--------