Love in process (ou a espiral vertiginosa, com vénia a João Barrento)
Quando mais próximo se fica do amor, mais necessário se torna conhecer quem nos mostrou esse território de espanto. O deslumbramento, a luz intensa e fulminante gerada pela atracção de almas e de corpos (fases por esta ordem, a segundos de distância uma da outra), embotam ou retardam a chegada do lado negro de cada um a essa nova dimensão recém criada ex novo; a contribuição "generosa" de vícios e de marcas, de insuficiências e de excessos é condição necessária (mas obviamente não suficiente - uma relação amorosa não é uma terapia, embora possa e deva ser regeneradora) ao evoluir da paixão para uma relação amorosa de sentido pleno e total, de encontro e de partilha. A entrega não é apenas do brilho, mas das pequenas/grandes trevas que nos habitam de modo mais ou menos enquistado, mais ou menos cancerígeno, mais ou menos matricial. Alcançar o elo seguinte da espiral pode então ser duro, difícil de enfrentar, mas é útil e tão imprescindível como qualquer dor de crescimento - o esqueleto só atingirá a sua fase adulta por meio de saltos, e, numa relação a dois, essas mudanças não representam apenas alterações quantitativas, mas também qualitativas: (re)qualificam a relação, dão a maior contribuição possível para a pertença - mostram cada um com o seu wild side, e expõem-no ao olhar do outro. Se esse olhar mantiver a luz, era mesmo amor.
--------