Noite, noctem, nix (de natal)
Numa família sem prática religiosa, o natal é um momento de manifestações de afecto em actos de consumo mais ou menos controlados, mais ou menos (i)núteis, mais ou menos simbólicos. Há ainda o aspecto do jantar de hoje, onde o número de convivas vai diminuindo pela força inexorável do tempo, antes que possa expandir-se outra vez em novos círculos, com outros centros, e onde seremos nós a periferia. É um momento de sensibilidade à flor da pele, confronto com a memória, saudade pura e dura de outros natais, outras noites, outros jantares. É o receiomal gerido da dor. É alto este preço que se paga pela herança cultural onde, por acaso, se nasceu. Mas, como tudo, passa. É só aguentar, respirar fundo, e passa. Garantido. E um dia não voltará de todo.
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