Palavras
Preciso delas para escrever, mas ainda não astenho, visitante de mim própria nesta manhã de chuva. Estão em boas mãos e hão-de voltar, ágeis e doces, seguras e temerosas, sabedoras e inquietas. Palavras de prefixos partilhados em horas vivas, tomadas de empréstimo súbito às estrelas, dependuradas de luzes, agarradas no meio do ruído, alisadas como papel de seda ao calor. Palavras chegadas do passado reescrito, carregadas de instante retocados, tornados quase brandos, quase brancos. Palavras (ar)riscadas para o presente que respira e está, refulge e já é memória. Palavras desconhecidas para alumiar caminhos longe. Não as tenho agora, não as certas, totais como o vento sobre o mar imenso da vida. Estão perto.
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