Pressentimento
Durante anos, escreveu muito sobre o lado negro do amor - a solidão do desencontro, a mágoa da ausência de retorno pleno, a rebeldia, a recusa perante a resignação aconselhada, a fome do verbo, os pequenos gestos de desconsideração, a visão estilhaçada, parcial, da mulher que se sabia. Raramente o sexo surgia nas suas palavras - tinha a suspeita permanente de que a luz fulgurante desse universo seria um dia uma realidade outra, plena, diversa do prazer dos corpos longe das almas. A realidade total, pressentia, seria bem diferente da parte que conhecia. A vida deu-lhe razão.
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