Pretérito (im)perfeito
Ter ficado desiludida de um amor que se viveu a solo, ante o olhar magnânimo, agradado e afectuoso, levemente condescendente, de quem não tinha o mesmo para dar em eterno retorno, objecto impossível anunciado e catalogado com rigor e honestidade férreos desde o primeiro instante, não é (nem pode ser...) a mesma coisa que desacreditar do amor, essa probabilidade à espreita em cada sorvo de ar, em cada batida cardíaca, em cada manhã rósea, em cada lua (japonesa ou turca), presente ou pressentida. O amor diz-se, (d)escreve-se, faz-se. Descobre-nos mesmo se nos esquivamos, toma-nos de assalto contra a razão, em má altura, e dá-nos guarida se fugimos da morte que é a sua negação plena. O inevitável não é feito da mesma massa que o inadiável: o amor adia-se querendo, e a morte não se evita de todo. Mas só no fim.
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