Simply on air
Diziam-lhe e repetiam com tanta convicção que só podia ser verdade: tinha passado todo o dia no ar, e teria ainda uma noite - um avião após outro, o primeiro quase perdido por exaustão e abandono ao sonho povoado, depois a luz trocada de sítio, os trópicos mudados de nome. Mas custava-lhe a crer que voasse na distância fulminante, de tal forma sentia aquela ausência, a leveza apagada de repente, a prisão à terra imposta por se ver reduzida a si, no espaço tornado enorme sem aviso. Rezava-lhe o sangue que no ar tinha já estado por muitos dias e noites, sem peso e sem esforço, suspensa na doçura de um olhar.
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