(ou do grau zero do optimismo) A elaboração e aprovação das listas de candidatos a deputados à Assembleia da República mostrou a fragilidade dos dois maiores partidos da cena política nacional. Se a confusão e a incoerência eram já esperadas no PSD (que não deixou tais expectativas em mãos alheias...), a verdade é que o PS também não foi brilhante nesta primeira fase da chamada pré-campanha eleitoral. As pressões das estruturas partidárias continuam a ser um travão fortíssimo à renovação dos actores políticos, uma condicionante quase inafastável à vontade participativa dos cidadãos que, companheiros de percurso embora, consideram primordial a manutenção do seu estatuto de independência; mais do que isso, essas pressões conseguem distorcer, em autênticos braços de ferro, tomadas de posição que, à partida, estavam anunciadas pela própria liderança partidária. No caso do PS, mais interessante porque é aí que se pode encontrar, apesar de tudo, o depósito de um grão de esperança na melhoria da vida política nacional e no "refresh" da acção governativa, o tratamento dado a mulheres como Sónia Fertuzinhos e Helena Roseta entra em contradição com a atenção supostamente dada à questão da igualdade (que inclui a controversa questão das quotas, como se sabe). José Sócrates tem um caminho espinhoso, entre a máquina antiga e alguma vontade de inovação. No caso das listas para as legislativas, digamos que perdeu o primeiro round, se o que realmente pretendia era demonstrar força face às pressões internas, locais, do aparelho. Mais importante agora serão as ideias, as propostas e, acima de tudo, a equipa que conseguir formar para governar após a (praticamente) certa vitória eleitoral que o espera. Esperemos, a bem da efectiva melhoria do estado de coisas neste país, vitimado por sucessivas perdas e abandonos (além de agraciado, nos últimos seis meses, com o circo mais ridículo que já tinha passado por um órgão de soberania - e, ainda por cima, com o pão em decréscimo...), que os próximos rounds tenham finais bem diferentes.