Não há espaços protegidos em absoluto, nem quem nos defenda sempre de forma completa; não há universos estanques nem zonas fora do mundo, por maior que seja a coesão e a unidade em que se vive. A entropia é uma constante inafastável, mesmo quando não se sente, de tão subliminar, mesmo quando não tem, por si, qualquer poder ou força existencial de transfiguração do real. Há invasões efectivas ou na forma tentada, há-as duras ou evitáveis, mas todas contam, todas são um anel de fogo que aperta a vida, ainda que sem a sufocar. Pode ignorar-se a entropia? Não - ela é um dragão que faz tremer o solo que pisamos, é um sopro sulfuroso que tenta entrar pelas frestas invisíveis com impossível teimosia, a empestar o ar em volta. Mas pode-se certamente reduzi-la à irrelevância do seu peso, comprimi-la sob a mó da lucidez e a força do que se sabe certo e seguro. A vida tem um curso e o tempo corre sempre a favor da verdade, sua filha dilecta, antes de, em definitivo, acabar por comer tudo o que existe, como bem lembrava Ovídio.