"-Que é que queres? Sobreviveste. Pronunciou-o como se se tratasse de uma sentença. E também como se fosse uma acusação. Olhava em frente, na penumbra, com olhos míopes, era muito velho (...). Então percebi que quem sobrevive a alguma coisa não tem o direitode formular uma acusação. Quem sobrevive a alguma coisa ganhou o seu processo, não tem direito, nem razão, para acusar alguém; era mais forte, mais astuto, mais agressivo. Como nós os dois - diz lacónico e seco." Sándor Márai, in As velas ardem até ao fim, ed. Dom Quixote.