A descida à realidade é um exercício em continuum, uma caminhada na construção da negação evidente da morte em cada instante - difícil operação, essa de adiar o inevitável, até ao ponto de evitar o inadiável, se necessário for. Viver plenamente, passar para lá do dourado que é a partilha do encontro, dispor de toda a coragem para chegar às catacumbas da alma, sua e do outro, com toda a carga do já visto, com todas as lágrimas por esquecer, com o medo imenso da dor que, de tão forte, não chegou a matar e obrigou o sobrevivente a respirá-la em cada manhã, até se dissipar lentamente numa nova luz - é aí que reside o núcleo duro do que chamamos amor.