Tinha perdido, com motivo aparente e sem aviso prévio, durante tempo doloroso e escasso, o sabor da respiração. Dos seus lábios não saíam mais do que palavras, nas veias o sangue parava, intacto e morno, sem sítio para onde ir. Os pulmões, inúteis, encolhiam como gatos enroscados à procura de um raio de sol que ainda os aquecesse. A máquina da vida em ponto morto, longe daquele olhar virado para dentro, fechado, a pele sem poros, os braços tornados ramos de árvore seca no meio de quase nada. Sem desistir, em apneia salgada, viveu no deserto onde os lençóis fingiam dunas movediças, deixou sair todo o calor que ainda lhe restava, e só voltoua si já o dia queria partir, à beira de um rio azul, com barcos por sonho e o mar verde em volta, como sabia que seria. Sempre.