Há um cabo a dobrar dentro do sangue após o canto os cânticos há cabos que dobrar é dar o sangue por causas carregadas de utopias causas que sabemos mortais de mortes naturais há um cabo a transpor ao sol poente gasto de alegria que outrora grassava neste mar vivo e tão vivido que se chamava vida se vida é nome a dar a qualquer coisa mais correspondente do que isto que sentimos do que isto de saber haver um cabo ao fim da terra onde a esperança finda e o tumulto das vagas arremete contra o último reduto o súbito crepúsculo que se salva se há um cabo um promontório donde tudo se avista onde ninguém nos avista nem o sangue em cujo leito o tal cabo se pranta e nunca se dobra por mais que se insista. Nuno de Figueiredo