Do purgatório (final)
«Aqui te trouxe com engenho e arte;
toma o prazer por guia que conduz:
pudeste a escarpas duras escapar-te.
Vê o sol que nessa fronte te reluz;
vê a ervinha, as flores, os arbustelos
que aqui a terra só por si produz.
Até que venham ledos olhos belos
de que a ti me trouxeram prantos plenos,
podes sentar-te e andar entre desvelos.
De mim não terás mais fala ou acenos:
é livre, recto e são teu alvedrio,
e falha fora tu segui-lo menos:
do que mitra e coroa a ti confio.»
Dante Aligheri, in A divina comédia, Canto XXVII, trad. Vasco Graça Moura, ed. Círculo de Leitores.
Publicado em 2 de Maio de 2005