Impossível cantar-te como cantei o amor adolescente colorindo de ingenuidade paisagens e figuras reduzindo-o à mesma atmosfera rarefeita do sonho sem percurso no real Impossível tomar o íngreme caminho da aventura mental ou imaginar-te pelo fio estéril da solitária imaginação Tão-pouco desenhar-te como estrela neste céu infame dizer-te em linguagem de jornal ou levar-te à emoção dos outros pela voz contrafeita da poesia Impossível Impossível não tentar dizer-te com as poucas palavras que nos ficam da usura dos dias do grotesco discurso que escutamos proferimos transidos de sonho no ramal do tempo onde estamos como ervas pedrinhas coisas perfeitamente inúteis pequenas conversas de ferrugem de musgo queixas questiúnculas arrotos comoventes Alexandre O'Neill