Estes gestos de vento, estas palavras duras como a noite, estes silêncios falsos, estes olhares de raiva a apertarem as mãos, estas sombras de ódio a morderem os lábios, estes corpos marcados pelas unhas!. . . Esta ternura inventando desejos na distância, esta lembrança a projectar caminhos, este cansaço a retratar as horas!... Amamo-nos. Sem lírios sobre os braços, sem riachos na voz, sem miragens nos olhos. Amamo-nos no arame farpado, no fumo dos cigarros, na luz dos candeeiros públicos. O nosso amor anda pela rua misturado ao buzinar dos carros, ao relento e à chuva. O nosso amor é que brilha na noite quando as estrelas morrem no céu dos aviões. António Rebordão Navarro