Se eu nunca disse que os teus dentes São pérolas, É porque são dentes. Se eu nunca disse que os teus lábios São corais, É porque são lábios. Se eu nunca disse que os teus olhos São d'ónix, ou esmeralda, ou safira, É porque são olhos. Pérolas e ónix e corais são coisas, E coisas não sublimam coisas. Eu, se algum dia com lugares-comuns Houvesse de louvar-te, Decerto que buscava na poesia, Na paisagem, na música, Imagens transcendentes Dos olhos e dos lábios e dos dentes. Mas crê, sinceramente crê, Que todas as metáforas são pouco Para dizer o que eu vejo. E vejo lábios, olhos, dentes. Reinaldo Ferreira