Dizia por vezes, enquanto lhe escutava com paciência de Job o arrazoado sem fim, que ela tinha tudo para ser feliz, excepto a vocação. Era um sábio, e ainda assim ela não acreditava, e retorquia que lhe faltava um amor, o amor, tal como o imaginava - esplêndido, recíproco, leal, devotado, tão pleno de corpo como de inteligência, de desejo como de humor. Pouco convicto, ele disparava contra a suposta formação pequeno-burguesa, que lhe parecia a causa de tão horrenda mal-formação, a tender para o romântico. O tempo passou, ela também, e chegou um dia improvável em que o seu desejo se realizou. Afinal, nunca soube ser feliz para sempre, só perto, muito perto disso.