(oferta da Maria João) Viver não dói Definitivo,comotudooqueésimples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não secumpriram. Por que sofremos tantopor amor? Ocertoseriaa gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempofeliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foidesfrutado e passamos a sofrer pelas nossasprojeções irrealizadas, por todas ascidades que gostaríamos deterconhecido aolado do nosso amor e nãoconhecemos, por todos os filhosque gostaríamosdetertido junto e não tivemos, por todos os showse livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos osbeijoscancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nossotrabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas ashoras livres quedeixamosdeter para ir aocinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremosnãoporquenossamãe éimpacienteconosco, mas por todos os momentosem que poderíamosestarconfidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em noscompreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuroestá sendo confiscadodenós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foivivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais meconvenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nadaarrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor éinevitável. O sofrimento éopcional. Carlos Drummond de Andrade