(...) Outros ecos Habitam o jardim. Vamos segui-los? Depressa, disse a ave, procura-os, procura-os, Na volta do caminho. Através do primeiro portão, No nosso primeiro mundo, seguiremos O chamariz do tordo? No nosso primeiro mundo. Ali estavam eles, dignos, invisiveis, Movendo-se sem pressão, sobre as folhas mortas, No calor do outono, através do ar vibrante, E a ave chamou, em resposta à Música não ouvida dissimulada nos arbustos, E o olhar oculto cruzou o espaço, pois as rosas Tinham o ar de flores que são olhadas. Ali estavam como nossos convidados, recebidos e recebendo. Assim nos movemos com eles, em cerimonioso cortejo, Ao longo da alameda deserta, no círculo de buxo, Para espreitar o lago vazio. Lago seco, cimento seco, contornos castanhos, E o lago encheu-se com água feita de luz do sol, E os lótus elevaram-se, devagar, devagar, A superfície cintilava no coração da luz, E eles estavam atrás de nós, reflectidos no lago. Depois uma nuvem passou, e o lago ficou vazio. Vai, disse a ave, pois as folhas estavam cheias de crianças, Escondendo-se excitadamente... contendo o riso. Vai, vai, vai, disse a ave: o género humano Não pode suportar muita realidade. O tempo passado e o tempo futuro O que podia ter sido e o que foi Tendem para um só fim, que é sempre presente. T. S. Eliot, in Burnt Norton, trad. Maria Amélia Neto.