Às vezes mal sentimos é uma leve aragem um rumor indistinto um arrepio às vezes entre as árvores onde escondemos os passos onde os pássaros reúnem sem aviso da próxima largada onde o lume é fumo e a chama cinza próxima e o calor é frio às vezes é outono e mal sentimos uma fresta da porta entreaberta a bater de mansinho e o vaso de cíclames na soleira adeja como um lenço de véspera nos olhos encobrindo às vezes mal pouco e mal se distingue um floco de tristeza mal suspenso não tem nome nem rasto nem destino poisa ali entre os olhos fica retido num verso e se buscamos sua rima seu labor de palavras só às vezes na cómoda se encontra entre as cartas a chave mas já nada nos livra desses olhares cúmplices nas fotografias. Nuno de Figueiredo