Às vezes
Às vezes mal sentimos é uma leve aragem
um rumor indistinto um arrepio às vezes
entre as árvores onde escondemos os
passos onde os pássaros reúnem sem aviso
da próxima largada onde o lume é
fumo e a chama cinza próxima e
o calor é frio às vezes é outono e mal
sentimos uma fresta da porta entreaberta
a bater de mansinho e o vaso de cíclames
na soleira adeja como um lenço de véspera
nos olhos encobrindo às vezes mal pouco
e mal se distingue um floco de tristeza
mal suspenso não tem nome nem rasto
nem destino poisa ali entre os olhos fica
retido num verso e se buscamos sua
rima seu labor de palavras só às vezes
na cómoda se encontra entre as
cartas a chave mas já nada nos livra
desses olhares cúmplices nas fotografias.
Nuno de Figueiredo
Publicado em 15 de Agosto de 2005