Do que não se pode falar é melhor calar - a sábia constatação de Wittgenstein é boa conselheira. No entanto, na verdade há momentos em que as palavras, geladas por não poderem correr como deviam, queimam. Quandoa distorção vem de onde não se esperava - de onde, apesar dos pesares, se acreditava haver rigor, até alguma nobreza (e isso sim, foi certamente wishful thinking, como está à vista); quando se é testemunha de um acto injusto, de uma tentativa de pôr em causa o bom nome profissional de alguém que é sério e íntegro, não é fácil escolher o silêncio e ficar lá. Quando um homem (e faço aqui, para que conste, a minha "declaração de interesses" - sou a mulher desse homem; seria perverso que este facto fosse impeditivo de dizer o que penso, embora só em parte, por razões quase óbvias) que faz aquilo em que acredita e segue critérios de honestidade intelectual, não serve interesses materiais e coloca em primeiro plano a vontade de criar, sem pretenciosismo, sem procura de protagonismo, por pura e simples capacidade de arriscar num tempoe num espaço onde isso é árduo, pode parecer fácil atacá-lo injustamente; então se a arma for uma "tribuna", ou uma simples cadeira ligada a um megafone, a tentação deve ser grande e o sucesso do ataque parece garantido; mas acredito que a verdade, a seriedade, valha mais do que a malevolência e fale mais alto - se assim for, não será igualmente fácil denegri-lo impunemente.