Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmas locuções de um pensamento aberto. No vazio de tudo eram frontes do universo deslumbrantes. Em silêncio via-as deslizar num gozo obscuro e luminoso, tão suave na visão que se dilata. Que clamor, que clamores mas em silêncio na brancura unânime! Um sopro do desejo que repousa no seio do movimento, que modela as formas amorosas, os cavalos, os barcos com as cabeças e as proas na luz que é toda sonho. Unificado olho as nuvens no seu suave dinamismo. Sou mais que um corpo, sou um corpo que se eleva ao espaço inteiro, à luz ilimitada. No gozo de ver num sono transparente navego em centro aberto, o olhar e o sonho. António Ramos Rosa