Enquanto ela falava para nós na sua tranquila voz de contralto, era evidente nos seus olhares, ou em algumas hesitações verificadas na conversação de ambos... bem, como havemos de chamar a este sentimento mútuo? - aquela sensação de estar desperto para outra pessoa, que surge sem aviso, sem ser procurada, e se expressa pela ideia de um futuro? Porque, se pensarmos bem, vivemos sobretudo pelo hábito, à espera, sustentados por prazeres temporários, pela curiosidade ou por desesperada energias difusas, como a malícia, mas não por essa confortante ideia de futuro, que só surge poderosamente nesse secreto estado de animação, que todos podemos sentir (...). E. L. Doctorow, in Estação das Águas, ed. Planeta.