Desencontro
eu disse: tenho sede
tu disseste: nada sabes do destino das águas
eu disse: tenho medo
tu disseste: das águas nascem sedas
eu disse: por esse rio não vou
tu disseste: desliza na memória quente da seiva que nos agita
eu disse: é fundo o sentido da corrente
tu disseste: há tábuas onde o sol flutua
eu disse: nos tojos o orvalho escorre
tu disseste: e nele a vertigem da luz transitiva
a miragem dos paraísos vegetais
a razão da raíz
a lucidez do sol magnífico no
incontrolável desejo do olhar
eu disse: eu quero a água; eu quero a seda; eu vou no rio; eu sou a tábua
e tu disseste: eu sou o destino; eu sou a viagem; eu sou o sol; eu sou a mágoa
Emanuel de Sousa
Publicado em 30 de Novembro de 2005