eu disse: tenho sede tu disseste: nada sabes do destino das águas eu disse: tenho medo tu disseste: das águas nascem sedas eu disse: por esse rio não vou tu disseste: desliza na memória quente da seiva que nos agita eu disse: é fundo o sentido da corrente tu disseste: há tábuas onde o sol flutua eu disse: nos tojos o orvalho escorre tu disseste: e nele a vertigem da luz transitiva a miragem dos paraísos vegetais a razão da raíz a lucidez do sol magnífico no incontrolável desejo do olhar eu disse: eu quero a água; eu quero a seda; eu vou no rio; eu sou a tábua e tu disseste: eu sou o destino; eu sou a viagem; eu sou o sol; eu sou a mágoa Emanuel de Sousa