Elegia Dos teus olhos líquidos irrompem musgos transparentes onde existe um verso amarrotado ao meio-dia. Um cinzeiro plástico, resíduos da noite no óleo dos dedos. Fica. Senta-te aqui na estrofe desta ilha impar num triângulo solitário. Conversemos do curso que vais tirar, da sede que mato em teus olhos, de um animal atropelado, do empréstimo de um livro, do sono das aves para esconderem a morte. Conversemos de tudo em vez de olharmos as fontes secas e as folhas, o enxame de lágrimas no meio da rua. Não é meio-dia. Mentira enquanto acreditávamos. Agora só acredito em teu sonho. Gostava de acariciar teus olhos líquidos e alisar o verso amarrotado. Mas perdes-te no voo sonoro e pequenino do avião no horizonte. Eu queria falar contigo. Olha a minha voz sequiosa de ser ouvida nas arestas do silêncio. Eu queria era falar contigo. Vivo num tapete de pregos em brasa dentro do frio, numa lágrima cristalizada. Vivo de não viver jamais. Eu queria falar contigo. Luís Adriano Carlos