Gostaria, como lhe tinha escrito em escassas letras, de ter encontrado as palavras exactas, pontuais, na primeira noite em que procurou o sono tão longe que estava noutro país, mas nevava tanto dentro como fora de si, e tudo gelava e se desvanecia a coberto do frio impuro de branco. Deixou que pousasse outra noite sobre o pedaço de terra que temporariamente a acolhia. Já tarde, quando um ponto qualquer perdido no espaço lhes cruzou as vozes no escuro da distância tangível, ainda houve a reverberação de um reconhecimento, um calor súbito que, por um instante, lhe trouxe o riso dele como solis invictus. Mas as palavras devem ter embatido nas copas geladas das árvores e voltaram ao negro em queda livre, ao carvão maldito e invencível que turva um idioma partilhado em sentidos diversos. Sentiu de novo a sombra da perda, o esmorecer da alegria mil vezes acesa. Deitou-se derrotada na lonjura culpada de quem aniquila o brilho das estrelas com o sopro concebido para as avivar.