Se quando vos perdi, minha esperança, A memória perdera juntamente Do doce bem passado e mal presente, Pouco sentira a dor de tal mudança. Mas Amor, em quem tinha confiança, Me representa mui miudamente Quantas vezes me vi ledo e contente, Por me tirar a vida esta lembrança. De cousas de que não havia sinal, Por as ter postas já em esquecimento, Destas me vejo agora perseguido. Ah, dura estrela minha! ah, grão tormento! Que mal pode ser mor que, no meu mal, Ter lembrança do bem que é já perdido? Luís de Camões