Diz-me o teu nome - agora, que perdi quase tudo, um nome pode ser o princípio de alguma coisa. Escreve-o na minha mão com os teus dedos - como as poeiras se escrevem, irrequietas, nos caminhos e os lobos mancham o lençol da neve com os sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido, como a levares as palavras de um livro para dentro de outro - assim conquista o vento o tímpano das grutas e entra o bafo do verão na casa fria. E, antes de partires, pousa-o nos meus lábios devagar: é um poema açucarado que se derrete na boca e arde como a primeira menta da infância. Ninguém esquece um corpo que teve nos braços um segundo - um nome sim. Maria do Rosário Pedreira