Apenas corpos à flor da terra Deixem que a noite passe sobre os nossos corpos, gorda de ventos e manchada de estrelas a perguntar de novo pelos filhos, a acenar com asas de aviões distantes, a abrir luzes fantásticas nas ruas, a dançar nua e negra como os deuses selvagens. Seremos indiferentes como espelhos, solenes como árvores antigas, horizontais, sólidos e surdos aos seus gritos de guerra e às falsas músicas que nos possa trazer. Apenas corpos à flor da terra sabemos de cor as curvas e os tons, um sinal, uma rosa entre os dedos, uma cicatriz funda, um pássaro na testa da nossa geografia humana e comovente. Apenas corpos à flor da terra ao sol nos abriremos de mãos dadas. António Rebordão Navarro