(gentileza de Amélia Pais) Tenho na minha frente a fada de sal cuja túnica recamada de cordeiros desce até ao mar Cujo véu pregueado de queda em queda ilumina toda a montanha. Ela brilha ao sol como um lustro de água iridiscente E os pequenos oleiros da noite serviram-se das suas unhas onde a lua não se reflecte para moldar o serviço de café da beladona. O tempo enrodilha-se miraculosamente detrás dos seus sapatos de estrelas de neve ao longo dum rasto perdido nas carícias de dois arminhos. Os perigos anteriores foram ricamente repartidos e mal extintos os carvões no abrunheiro bravo das sebes pela serpente coral que sem custo passa por um delgado filete de sangue seco na lareira profunda sempre sempre esplendidamente negra Esta lareira onde aprendi a ver e sobre a qual dança sem cessar o crepe das costas das primaveras Aquele que é necessário lançar muito alto para dourar a mulher em cujos cabelos encontro o sabor que perdera O crepe mágico o sinete voador do amor que é nosso. André Breton, tradução de Nicolau Saião.