Hoje é um dia reservado ao veneno e às pequeninas coisas teias de aranha filigranas de cólera restos de pulmão onde corre o marfim é um dia perfeitamente para cães alguém deu à manivela para nascer o sol circular o mau hálito esta cinza nos olhos alguém que não percebia nada de comércio lançou no mercado esta ferrugem hoje não é a mesma coisa que um búzio para ouvir o coração não é um dia no seu eixo não é para pessoas é um dia ao nível do verniz e dos punhais e esta noite uma cratera para boémios não é uma pátria não é esta noite que é uma pátria é um dia a mais ou a menos na alma como chumbo derretido na garganta um peixe nos ouvidos uma zona de lava hoje é um dia de túneis e alçapões de luxo com sirenes ao crepúsculo a trezentos anos do amor a trezentos da morte a outro dia como este do asfalto e do sangue hoje não é um dia para fazer a barba não é um dia para homens não é para palavras António José Forte