Há ouro marchetado em mim, a pedras raras, Ouro sinistro em sons de bronzes medievais - Jóia profunda a minha alma a luzes caras, Cibório triangular de ritos infernais. No meu mundo interior cerraram-se armaduras, Capacetes de ferro esmagaram Princesas. Toda uma estirpe real de heróis d´Outras bravuras Em Mim se despojou dos seus brazões e presas. Heráldicas-luar sobre impetos de rubro, Humilhações a liz, desforços de brocado; Basílicas de tédio, arneses de crispado, Insígnias de Ilusão, troféus de jaspe e Outubro... A ponte levadiça e baça de Eu-ter-sido Enferrujou - embalde a tentarão descer... Sobre fossos de Vago, ameias de inda-querer - Manhãs de armas ainda em arraiais de olvido... Percorro-me em salões sem janelas nem portas, Longas salas de trono a espessas densidades, Onde os panos de Arrás são esgarçadas saudades, E os divans, em redor, ânsias, lassas, absortas... Há roxos fins de Império em meu renunciar - Caprichos de setim do meu desdém Astral... Há exéquias de heróis na minha dor feudal - E os meus remorsos são terraços sobre o Mar... Mário de Sá-Carneiro